Thursday, February 24, 2005

MR. BUSH ACARICIA A EUROPA

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Monday, February 21, 2005

1969 - A grande materialização da autonomia da ciência


Aristóteles, filósofo grego do Séc. IV aC, defendera que o planeta Terra era o centro do Universo, enquadrando uma ciência qualitativa quanto à constituição e funcionamento dos corpos celestes. Esta teoria viria a ser intensamente assimilada pelo homem, num misto de razão e de Fé.
Qualquer conquista da Ciência, para além dos parâmetros metodológicos, que não se enquadrasse coerentemente no saber tradicional, seria considerada falsa, não deturpando o pensamento da sociedade de então, quanto aos conceitos sobre a Terra e o Universo.
No Séc. XVI dC, o astrónomo polaco Copérnico demonstrou que o centro do Universo era a estrela Sol e não a Terra, que os planetas possuíam um duplo movimento, o de rotação e o de translação. Esta descoberta científica não viria a ter repercussão, pela filosofia aristotélica, que impunha o seu critério e limites ao autêntico saber científico.
Um século mais tarde, o cientista italiano Galileu (n.1564/m.1642) proclamava que o centro do mundo planetário era o Sol. Uma heresia nos tempos coevos, valendo-lhe a antipatia dos intelectuais.
Intimidado a renunciar à sua doutrina, fundamentou em livro (1632) o Sistema Solar. Não obstante, e já septuagenário, Galileu iria a tribunal. Ao negar a sua tese, temendo pela sua própria vida, balbuciou: "Eppur si Muove"! (e, no entanto, a Terra move-se!).
Para Galileu, "Deus dotou o homem com as faculdades necessárias para compreender que Ele é tanto o autor da Bíblia, como o autor da Natureza".
Este evento científico, eleva-se a marco histórico da criação da Ciência Moderna.
Ao longo dos séculos, algo deu substância à Astronáutica propriamente dita: no ano 160, segundo século da nossa Era, Samasota no seu livro "História Verdadeira", descreve pela primeira vez uma viagem à Lua; no século XVII, a mesma ficção em obras de Kepler, Godwin e Bergerac, a que se acresce Newton, com a enumeração da base do sistema actual da propulsão cósmica. (v.Mapa)
Entretanto, ...quem já não leu o romance "Da Terra à Lua", escrito em 1865?!... Cem anos separam o sonho da “bala do super canhão” idealizado por Júlio Verne, ao potente foguetão Saturno-5, com o módulo de Comando Lunar nele acoplado. (v.Fig.)
A 21 de Julho de 1969, a ficção passou a realidade: O homem pisava pela primeira vez a superfície da Lua.
Concretizava-se assim, o desafio técnico lançado oito anos antes, pelo Presidente John Kennedy: "a América enviará um homem à Lua, antes de 1970!".
Do Cabo Kennedy, três astronautas a bordo do módulo de comando Apolo, iniciaram a viagem com destino ao satélite da Terra, a uma velocidade vertiginosa, lançado para o espaço pelo "musculado e inteligente" Foguetão.
Dois dos astronautas, em fatos especiais e num outro módulo mais pequeno, pousaram suavemente na Lua. Enquanto Collins se manteve no módulo Apolo, girando em torno da Lua, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, caminharam na superfície lunar em recolhas e trabalhos científicos.
A viagem de regresso à Terra levaria três dias, com 385 quilos de rocha lunar, para gáudio dos estudiosos.
No triénio 1969/72, os astronautas americanos visitaram seis pontos diferentes da Lua. Deixaram lá alguns instrumentos, um para detectar sismos lunares, outro para medir a distância da Lua à Terra. Depois, mais ninguém lá voltou, neste projecto altamente dispendioso.
Um feito ímpar na História da Humanidade, há precisamente 35 anos. Em contexto, diríamos que foi a grande materialização da Revolução Científica criada por Galileo Galilei.
A nível cultural e das mentalidades, a odisseia à Lua não terá sido credível a muita gente, ora por não possuírem um conhecimento mais lacto, ora por ser um feito humano demasiadamente arrojado e impossível.
Os jornais e as revistas que chegavam até nós, eram pouco divulgadas. Embora, a rádio de válvulas e um reduzidíssimo número de rádios transístores, actualmente peças de museu, se generalizasse em todas as famílias, as notícias nacionais eram transmitidas satisfatoriamente por uma ou até duas emissores: a Emissor Regional dos Açores (RDP) e o Clube Asas do Atlântico, nas quais os problemas e as preocupações do Estado, face às diversas frentes da Guerra Colonial, eram frequentes na informação áudio.
Todavia, o Continente beneficiava de televisão (RTP), com imagem a preto e branco. Daí, a "Flama", revista semanal de actualidades, no nº 1120, dedicar em título de capa um "exclusivo sensacional: 16 páginas a cores com fotografias feitas na Lua".
Diríamos que não só houve incredibilidade, perante a ida do Homem à Lua, mas também alguma espécie de ironia. Recorde-se um aluno que, num teste de Português (Esc. Ind. e Comercial P.D.), argumentara: "a Lua não será a mesma para os poetas, por já lá haver ferro-velho deixado pelos terrestres".
Ao relermos o nº 657 do Semanário a "VILA", ressalta-nos o artigo "Os que não foram à Lua", pelo que se cita algumas passagens, numa síntese do seu conteúdo:
"Da parte dos poetas, havia certa má vontade e rancor contra os perturbadores da tranquilidade do satélite", "... os que sofrem da mania da contradição, negam a pés juntos que algum ser humano tenha ido ate à lua", etc..
Volvidos 35 anos, assiste-se ao percurso de concretização de estações espaciais internacionais, tais como a Mir (Paz) e a Freedom (Liberdade), a 450 Kms da Terra, para nas próximas décadas servirem de bases ou colónias do ser humano, a um Astronáutica ainda mais vasta.
25.OUT/2004 AUGUSTO M.C. CORREIA

Friday, February 18, 2005

Carlos Sousa Melo

Ontem entrevistei Carlos Sousa Melo, homem profundamente religioso que preside ao conselho dos romeiros de S. Miguel. Da entrevista, que já estou a passar para o papel ficou-me a ideia que o movimento dos romeiros está mais forte, mais disciplinado e que os seus participantes seguem na romaria com um espírito cristão mais apurado. Poderão ler esta entrevista depois da saída do nº 281 do jornal A Vila.
Mário Roberto
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Tuesday, February 15, 2005

1. Portugal doente, porquê?

Propositadamente ou não, os recentes acontecimentos da dissolução da Assembleia República e do pedido de demissão do XVI Governo Nacional, vieram dar razão, na tela da dura e crua vida real, ao que escrevi aqui no meu último artigo. As coisas que quisera dizer e que não disse, à superfície mas que ficaram indelevelmente registadas nas entrelinhas, foram cruelmente justificadas com a verdade dos factos. Algo tinha que levar um abanão, mas continua qualquer coisa neste país a ter que ser resolvida e que o tempo mantém permanentemente adiada.

Barata-feio, no seu habitual Sinais do Tempo que insere na revista Grande Reportagem, que é separata aos sábados do Diário de Notícias e do Açoriano Oriental, assina um artigo que titula: A miséria foi-se embora, recortando em pinceladas grossas um retrato dos Governos de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes. Habitualmente não escrevo sobre temas de política e muito menos da governação. Afloro aqui esta problemática, porque tentei demonstrar que este país lindo de morrer está doente. Sofre duma doença que, tardando em tratar, vai minando profundamente os seus alicerces e estruturas. Contrariamente ao que José Manuel Barata-Feio escreve neste artigo, eu penso que a "miséria não se foi embora". Como também estou profundamente céptico que as próximas eleições de 20 de Fevereiro tragam soluções novas, qual coelho tirado da cartola, para os inúmeros problemas com que todos nos confrontamos. Não sei se é utopia da minha parte dizer isto, - porque logo alguém contrapõe que na Alemanha, no Canadá, nos Estados Unidos e em outros tantos países modernos e evoluídos é assim também -, mas estou sinceramente convicto que enquanto persistirem as clientelas políticas, próximas ou alimentadas pelo partido ou partidos que estão no poder, este país tarde ou nunca se endireita. A miséria não se foi embora, ela está e continuará a estar, pois que assenta numa grave crise de valores.

Portugal está doente, porquê e como? Um elenco de situações que, duma forma simples, a seguir apresento, demonstra-o à saciedade.
Portugal é um pequeno país, pobre, emparedado dum lado pela Espanha que lhe controla os caminhos por terra para a Europa, nesta Comunidade de portas abertas. Do outro, ergue-se um imenso oceano, que lhe impregnou na alma e no sentimento uma acentuada vocação marítima: "País de marinheiros, num cantinho da Europa à beira mar plantado". A retoma económica, porque é uma nação de parcos recursos e, portanto, fortemente dependente de outros e do exterior, tarda em chegar, porque, tal como as crises, é também importada.
Mas, quando começo a descer, seguindo de Lisboa para o Sul e entro na Espanha, fico, ao longo de muitos quilómetros percorridos em direcção a Sevilha ou à costa que vai de Málaga a Cádis, com a sensação de que Portugal é grande e que a Espanha é que é pequena. Enquanto a imensidão da paisagem espanhola é cortada por campos impecavelmente tratados e regados, cheios de pomares, árvores de fruta, hortas, searas de trigo, campos de milho e outros cereais, terrenos de girassol a perder de vista, o nosso Alentejo e Algarve é terra de sobreiros, carvalhos, oliveiras, figueiras e alfarrobeiras, que nascem quase espontaneamente, com imensas zonas desprezadas e sem culturas, terras de mato e serra, salpicadas a espaços por lindas searas de verde trigo (ou de restolho amarelo no estio) ou alguns arrozais, que vão sendo cada vez em menor quantidade. A dependência agrícola é uma das nossas grandes fatalidades. As nossas grandes e pequenas superfícies comerciais estão cheias de produtos estrangeiros. Outrora as nossas frutas e os nossos produtos verdes enchiam os nossos mercados e praças. Numa recente viagem que fiz à Alemanha, e noutra à Itália, encontrei a mesma realidade. A mesma realidade nos Estados Unidos e Canada. Milhares e milhares de quilómetros tratados, regados, verdes e férteis. Em terras da estranja, nós, "portugas", trabalhamos desalmadamente e atingimos padrões de produtividade elevada. Cá dentro, andamos de costas ao alto, somos donos de índices de produtividade dos mais baixos de toda a Europa, trabalhamos cada vez menos e reivindicamos cada vez mais, a corrupção, a pobreza, as barracas, os sem abrigo e os desempregados crescem todos os dias, continuamos a olhar para o nosso próprio umbigo e atacamos os nossos mais sagrados valores. Os roubos, a pornografia, as toxicodependências, os crimes violentos e assaltos, o abuso sexual de menores, a violência doméstica, a escravatura sexual, o abuso de sedativos e as doenças depressivas e do foro psíquico, estão instaladas na nossa sociedade. A degradação do ensino e da justiça e o desinvestimento na cultura são outros tantos poderosos indicadores de que a miséria “não se foi embora” deste país, mas antes persiste em continuar.

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Os casos Casa Pia, Apito Dourado, ataques às Casas do Gaiato e outras instituições de solidariedade, os casos de corrupção que irrompem daqui e dali, são manifestações de que a nossa sociedade anda doente e tarda em recuperar. Vive-se num tempo de boatos e de denúncias, de invejas e de intrigas, Quem quer fazer mal a outrem, ou porque não gosta dele ou não vai muito com a sua cara, facilmente o atira na lama, o leva à detenção, à prisão e à barra dos tribunais. Tudo tão fácil: - basta apresentar uma denúncia, inventar uma situação e arranjar testemunhas. Num ápice, a vida duma pessoa, mesmo a familiar e íntima, é enxovalhada e posta na praça pública. O denunciado é dado como arguido e, sendo exponencialmente aumentada a queixa pelos órgãos da comunicação social, falada e escrita, o arguido, mesmo sem ter sido julgado, passa a figura detestada pela sociedade, a monstro ou a inimigo público, e a ser olhado por todos como culpado ou potencial culpado. Assim vão os tempos: - a memória dos homens tornou-se curta. Os valores de ontem são postos em causa. Instituições sólidas de formação de homens são atacadas hoje nos seus alicerces e pedagogia, sem razões fundamentadas. Tudo se critica e ataca, em nome da democracia parece que tudo vale. Não há fronteiras para os desmandos e para a falta de contenção e de ponderação.

A cura da doença e o tornear dos caminhos infindáveis de miséria que ensombram o nosso país, passam por aqui. Os políticos e os governantes que sucederem aos que agora saem têm de pisar estes caminhos, fazerem caminhada de regresso aos valores que tornaram Portugal forte e, retomando os trilhos, partirem definitivamente para um caminho de modernização e desenvolvimento. Portugal, integrado no amplo espaço da União Europeia, tem boas condições para ser um país forte, desenvolvido e moderno, mas nunca o poderá fazer destruindo ou abdicando da sua própria identidade e matriz cultural.

Por isso, contra vozes que por aí se levantam, como que querendo arranjar remédio para este estado de coisas, defendem o iberismo ou, o que é dizer, a integração de Portugal na Espanha. Defendem que, se não tivéssemos ganho a batalha de Aljubarrota ou não tivessem havido uns malucos que fizeram a Restauração, hoje éramos todos espanhóis, fazíamos parte dum país grande e evoluído e vivíamos todos contentes e felizes.

Ao contrário disto, eu defendo que, neste mundo aberto e de gloco/globalização, ninguém dá nada a ninguém sem pedir muito em troca ou como contrapartida. A “terra de leite e mal” que viria da Espanha, que os arautos da desgraça e de causas perdidas defendem, não nos traria nada de bom, a não ser a perda da nossa própria identidade. Todavia, a batalha que hoje Portugal trava ou é obrigado a travar, pode ser muito bem pior e de contornos mais indefinidos e sinuosos que a que vencemos em Aljubarrota no longínquo ano de 1385.


2. Quadra Festiva natalícia

A coisa duns 15 dias de distância, estaremos no Natal, atravessando por dentro a Quadra Festiva até ao Ano Novo e Epifania dos Reis. Daqui deste cantinho e duma forma humilde e despretensiosa, quero endereçar os meus mais sinceros votos duma Santa Quadra, Alegre e Feliz, a toda a equipa que faz e alimenta este jornal, assim como a todos os seus leitores e assinantes.



Natal de 2004.



José Rogério da Apresentação
Ponta Delgada, 10.12.2004

Monday, February 14, 2005

Nuno Barata Almeida e Sousa - Generalidades dum Especialista

Nuno Barata Almeida e Sousa ex-deputado à Assembleia Legislativa Regional e actual cabeça de lista pelo CDS-PP às eleições legislativas nacionais é um homem que defende as suas ideias com unhas e dentes. Armador de pesca, tem uma visão desassombrada tanto sobre as questões relacionadas com a sua actividade profissional como em relação a tantas outras coisas. Talvez por isso se considere um "especialista em generalidades" como ele próprio se define no seu blog, o Fogotabraze, o mais antigo e um dos mais visitados da blogosfera açoriana.

O que é que te fez impelir para a política?

A vontade de participar na coisa pública, naquilo que nos rodeia, nas decisões, no bem ou no mal que está à nossa volta, nasce um pouco connosco. O clima familiar que nos vai incutindo essa atitude mais activa perante a sociedade. E também com algum sentido de dever cívico. Em 1995 respondi pela primeira vez positiva e afirmativamente a um convite que me foi endereçado por um partido para me candidatar como independente à Assembleia Municipal de Ponta Delgada, fi-lo não com muita vontade mas com um sentido de que tinha obrigação de fazer aquilo. Eu era naquela altura uma pessoa totalmente descomprometida com qualquer poder e tinha a minha vida perfeitamente organizada , não dependia da decisão dum qualquer director de serviços ou director regional para poder almoçar ou jantar, senti-me na obrigação por ter essa liberdade de cumprir também essa função na política, depois foi uma dependência, experimentamos aquilo uma vez e depois não queremos deixar de fazer política. Funciono sempre com o sentido de prestar um serviço à sociedade.

Depois de tantos anos a fazer política não te desviaste nem um milímetro das tuas intenções iniciais, sobretudo essa de querer prestar um serviço à sociedade?

Tento não me desviar muito desse caminho. Mantenho a minha vida privada o mais privada possível, o mais independente do estado possível até porque eu não acredito na economia sustentada mas sim sustentável, só acredito nela com mercado e com iniciativa privada. Por mais incrível que pareça, os socialistas também fazem agora este discurso da economia de mercado. É por aí que o cidadão, o empresário consegue conquistar a sua liberdade que é uma coisa que prezo muito, enquanto empresário e político, nunca fui de me deixar amarrar às directivas de um partido e é óbvio que se tivesse uma grande ânsia de poder, em 95 quando aderi ao CDS-PP não o teria feito, teria esperado por um convite dum partido maior ou tinha-me posto em bicos de pés para conseguir um partido maior.

Entretanto interrompeste isso tudo...

Interrompi porque o processo político interno no partido decorreu duma forma que me foi adversa e eu como bom democrata deixei os outros trabalhar e dediquei-me mais às empresas e à minha família. Entretanto tive duas filhas e isso condicionou um pouco a minha participação na vida política.

O que é que faz com que as pessoas se desencantem da política, tanto algumas que se encontram ligadas ao aparelho político dos partidos como, sobretudo, o cidadão comum?

Acho que há aí um problema e é muito complicado de dizer quando se está a falar para um jornalista se bem que eu saiba para que jornalista eu estou a falar. Acho que a comunicação social tem aí um cota de responsa-bilidade porque durante muito tempo e ainda hoje é assim a comunicação social trata o lado negro da política, o lado da corrupção , o lado do indivíduo que está na política por interesse, mesmo que o interesse seja a do simples emprego, fala-se disso como se a política pudesse ser um emprego, a política nunca pode ser um emprego, é um local de passagem, é uma actividade que se desenvolve como se acabasse no dia seguinte. A forma como a comunicação social nos últimos quinze, vinte anos tratou os políticos faz com que muita gente válida, tenha vergonha, o termo é esse, tenha vergonha de participar na vida política activa

Queres dizer que os políticos não são culpados disso?

Também são culpados mas na minha perspectiva, os mais culpados são essas pessoas válidas que estão na chamada sociedade civil, é um termo com o qual não concordo mas que vou utilizar para que as pessoas percebam, se essas pessoas que são sérias do ponto de vista económico, do ponto de vista intelectual se envolves-sem na política e o fizessem nos par-tidos mais pequenos para dar a entender aos partidos grandes que se estão a borrifar para os cargos, provavelmente a política moralizar-se-ia e as pessoas começavam a acre-ditar mais e aí está recentemente o caso de Cavaco Silva a fazer uma birrinha de menino e a pôr a esquerda do seu lado (como se isso fosse possível, como se a esquerda se tivesse esquecido dos anos de cavaquismo) bem como o Santana e as santanetes e isso torna as pessoas descrentes; pensam : "afinal o PSD o que agora tem é as santanetes e o ministro do bom bom e no PP só tem dois ou três gajos meios taroucos porque os indivíduos bons afastaram-se da política". Eles é que têm culpa por a política estar na situação em que está, os partidos não se fazem com aqueles que estão cá fora a mandar palpites, fazem-se com quem participa e essa foi uma das razões porque voltei à política activa, porque vi que era preciso agitar as águas dentro do partido. Ainda em relação aos jorna-listas e nada tenho em relação ao jornalismo mais sensacionalista, tem a ver até com os jornais de referência. Abrimos as páginas dos jornais e lemos o empresário tal é corrupto, o político tal é ladrão, o jogador fulano de tal fugiu aos impostos; que raio! E os jornalistas são todos impolutos? Ainda não houve um jornal de referência que fizesse um trabalho sobre os jornalistas corruptos que os há, em Ponta Delgada, nos Açores, há jornalistas que vendem entrevistas, que fazem comércio de jornalismo e isso é mau e é preciso denunciar.

O que é que te ocorre dizer sobre o Fundo de Pesca?

Não concordo "em absoluto" com o Fundo de Pesca "Ao contrário duma direita mais radical, populista e dema-gógica eu nada tenho contra o Rendi-mento Social de Inserção, acho que é da mais elementar justiça numa sociedade que caminha claramente para níveis de desemprego muito grandes , não é culpa das pessoas, não é culpa dos políticos. É culpa da sociedade que caminha no sentido da mecanização, das novas tecnologias, da aldeia global e enquanto assim for eu até vejo isso como uma perspectiva boa da sociedade, vão trabalhar muito poucos e esses irão ter um rendimento superior, muitos outros vão poder ficar em casa a fazer aquilo que lhes apetece embora com rendimentos mais baixos e esses rendimentos têm de ser sustentados por alguém. Não vamos deixar metade da humanidade passar fome porque não há empregos. Se a outra metade consegue produzir tudo para nós vivermos é mais do que natural que aqueles que têm necessi-dade de trabalhar, paguem para outros que não têm qualquer hipótese de emprego viverem com um mínimo de dignidade e a esses é permitido fazer outras coisas que aos outros que estão a trabalhar não é. Eu não vejo isso como um bicho papão. No caso do Fundo de Pesca é muito mais grave porque há um sub-sector das pescas que vive dramaticamente com pro-blema de falta de mão de obra e anda a importar sistematicamente, desde os anos oitenta mão de obra da Madeira, de Vila do Conde, da Póvoa de Varzim e até de Espanha e doutros mercados. Não faz sentido no meu entender que se ande a pagar uma compensação por dias perdidos de pesca a um outro sub-sector que está super lotado de gente enquanto este outro sub sector tem falta de mão de obra. Fazia muito mais sentido pegar nessa gente e dizer-lhes: "nos meses de Dezembro a Abril não conseguem ir para o mar nos vossos barquinhos de boca aberta mas há lugar nas embarcações grandes. Porque é que não vão para lá?" Nós armadores da pesca dita costeira de barcos de mais de 22 mts temos muita dificuldade em encontrar pessoal para trabalhar.

Há também uma certa deserti-ficação favorecendo outros sec-tores como a construção civil

Esse é outro problema. Muitos deles estão inscritos como marítimos, vão à pesca quando o tempo está bom, faltam à obra e quando o tempo não está bom, apresentam-se na obra e como trabalhadores clandestinos a trabalhar em pequenas empreitadas e até para grandes empreiteiros que os sub-contratam como forma de pagar menos e porque está clandestino, não pode reclamar. Isso tem de ser fiscali-zado. A pesca dita industrial está a ser penalizada por esse tipo de interven-ção, primeiro, como já disse, porque lhe tira a mão de obra e depois porque nos dias em que está bom tempo somos altamente penalizados porque o peixe dessas embarcações de boca aberta é de melhor qualidade do que o nosso e porque eles conseguem trabalhar muito mais depressa do que nós, podem pescar muito mais pró-ximo, num instante vão ao mar e voltam e eu venho com um dia de navegação da zona de pesca nas Flores ou na Graciosa, chego cá e foram catorze ou quinze barcos ali ao lado com umas caixas de gorazes e entram no mercado. Eu não tenho nada contra isso, ainda bem que entram no mercado e que tenham o seu rendimento, até porque a qualidade dos barcos de boca aberta é que faz o nome dos Açores, não é o peixe das traineiras. Somos penaliza-dos quando está bom tempo e não recebemos compensação nenhuma por isso, nem há razão para receber. Mas também não há razão para eles receberem quando está mau tempo. Há uma questão social que tem de ser resolvida que é a distribuição do rendimento nos barcos de boca aberta. O total da pesca é dividido por todos cabendo um quinhão a cada um mas duma forma hierárquica, o que é injusto.

Como é que te envolveste no sector das pescas?


Teve a ver com a criação da asso-ciação de armadores de pesca do atum nos Açores. Eu na altura trabalhava no Banco Comercial dos Açores e estava muito envolvido com clientes que estavam ligados à pesca e surgiu dum convite do Engº Valdemar Oliveira para colocar a associação a funcionar. Na altura talvez de forma irresponsável dei um "pontapé" no BCA e dediquei-me à associação de armadores. Entretanto surgiram algumas hipóteses de fazer investimentos na área, com investi-dores nacionais e estrangeiros e eu atirei-me por terra dentro e hoje é isso que faço essencialmente: gerir uma frota de pesca, neste momento são três embarcações com possibilidades de vir a gerir uma quarta a breve prazo, com capital estrangeiro porque eu já não tenho capital nessas empresas, sou praticamente um administrador delegado do capital estrangeiro, embora as empresas tenham sede nos Açores, paguem os seus impostos na região, e reinvistam os seus lucros nos Açores

O que é que leva essa gente a investir nos Açores nessa área. É assim tão lucrativa?


Surgiu um interesse efectivo a partir de 1997, principalmente por parte dos espanhóis e franceses em investir nos Açores. Foi-lhes praticamente fechada a porta do ponto de vista de criarem empresas aqui e construirem barcos aqui e então o estratagema encontrado foi tentarem comprar empresas que se encontravam em situação financeira complicada nos Açores, injectar-lhes capital, procurar know-how nos Açores capaz de recuperar essas empresas e pô-las a funcionar. Foi por essa via que saí da associação e fui trabalhar para essas empresas e ainda bem que o fiz, não estou nada arrependido. Os espanhóis, principalmente os espanhóis, olhavam para os Açores como uma mina. Depois das experiências que cá tiveram perceberam que isto não era uma mina tão grande como julgavam, que é um erro em que a maior parte dos açorianos também incorre. Acham que estamos cheios de peixe e que isso nunca mais acaba. Mas não é verdade. Os nossos recursos são muito limitados. Alguns nem estão estudados nem explorados. Não me admira que dentro de breve se consiga lá chegar mas com muito empenho da Universidade dos Açores e dos armadores. Esse capital fez investi-mentos grandes aqui mas os investi-mentos não cresceram porque para alguns as coisas não correram muito bem. Nós neste momento temos duas embarcações cujo capital é inteira-mente espanhol mas as embarcações estão a trabalhar na Mauritânia porque aqui não há sequer lugar nos bancos para eles poderem trabalhar. Eu estranho quando ouço dizer que embarcações espanholas vêm clan-destinas tentar pescar aos Açores. As duas que cá estão são casos de sucesso mas há dezenas de outras que já vieram e que abandonaram porque não conseguem sequer recu-perara o investimento efectuado. Temos uma zona exclusiva muito grande mas reduzida a poucos bancos de pesca. Agora há recursos que ainda não foram estudados mas que sabe-mos empiricamente que existem e acho que é por aí que podemos salvaguardar toda a frota e o tecido empresarial no sector. Agora deve-se usar na exploração desses recursos artes de pesca que sejam selectivas e ecológicas. Temos de vender os Açores como um destino ambiental e ecológico onde se preserva o máximo a vida das pessoas e dos animais. Em todos os aspectos. O turismo tem de ser de ambiente, as pescas ecologi-camente controladas, a agricultura tem de ser de produtos de qualidade, porque não temos possibilidades de competir com mais nenhum mercado do mundo, nem apenas o europeu, nesses sectores, só pela excelência, pela qualidade e isso consegue-se no século XXI pela protecção ambiental.

O Governo promete um apoio significativo aos armadores da Região que queiram pescar fora das nossas águas. Queres comentar?

Acho que é mais uma tentativa à semelhança do que já se fez no passado. Tenho muita pena que o sr. sub-secretário das Pescas só agora chegue à conclusão de que é preciso fazer isso. Já em 1998 a frota do atum estava completamente falida e em situação muito complicada e houve armadores que fizeram contratos com várias empresas internacionais para irem trabalhar para o Gana, para a África do Sul, para Moçambique...o Governo Regional chegou a mandar uma missão a S. Tomé e não levou os armadores que tinham pedido autori-zação para ir . O armador acabou por ir às suas custas e recebeu lá o Governo. Isso não cabe na cabeça de ninguém. No início do ano 2000 eu estive no Gana a tentar pôr um barco que lá estava, a trabalhar para uma empresa norte - americana que está sediada nesse país. É sempre muito difícil arranjar tripulação e conseguir tra-balhar. Só com grande cooperação entre a EU e esses países. É possível na Mauritânia, no Gana, em S. Tomé embora aí não haja condições para a descarga e transporte. É mais fácil fazê-lo na África continental, em Angola por exemplo. Mas para isso temos de arranjar parceiros credíveis, que tenham capacidade financeira para comprarem o nosso pescado, fornecerem os combustíveis, tratarem das nossas embarcações e de toda a logística necessária à operação duma embarcação em condições de não ter de ficar parada à espera duma peça ou de combustíveis.O que se passou na última experiência é que foram barcos para Angola, receberam o gasóleo adiantado, chegaram lá não tiveram licença para trabalhar e regressaram porque o Governo pagou o gasóleo já que os armadores nem dinheiro para combustível tinham. E acho que vai acontecer o mesmo porque se vai trabalhar com as mesmas pessoas, o mesmo mercado, o mesmo destino. É preciso muito cuidado quando se escolhe os parceiros. Sendo nós uma Região pobre com armadores numa situação muito aflitiva temos de arranjar um parceiro forte que não esteja tão falido como nós.

Como cabeça de lista pelo CDS-PP à Assembleia da República quais são os pontos em que incidirá a tua campanha?

Tenho duas ou três questões que me parecem muito importantes de resolver. Uma é apostar na revisão do estatuto administrativo da Região, aquilo a que eu costumo chamar a nossa pequenina constituição, por forma a que ele satisfaça duma vez por todas, os anseios autonómicos dos Açores. Costumo dizer que faço parte da geração dos quartos autonomistas, daqueles que querem mais autonomia para os Açores, que não seja só no papel que seja também financeira porque se nós não vencermos o problema do nosso auto financiamento nunca seremos autónomos, seremos sempre aqueles que estão de mão estendida, é um pouco como o filho que trata mal o pai mas está sempre a pedir aumento da mesada. Essa revisão do estatuto que defina duma vez por todas o quadro de obrigações e deveres da República mas também de responsabilidades das regiões autónomas. E este quadro importantíssimo a revisão da lei de financia-mento das regiões autónomas, os níveis de capacidade de endivida-mento e de investimento e acima de tudo a possibilidade da Região mexer nas perspectivas dos impostos directa-mente pagos pelos açorianos. Ou seja, de nós podermos definir as nossas taxas de IRS, se é para subir, se é para baixar. Eu acredito que a redução dos impostos promove o consumo, promove o investimento.

Barata

Uma das outras questões que para mim é importante é o tratamento que se tem dado ao ambiente e isso é global, não é um problema dos Açores ou do continente, está-se a tratar a questão ambiental com muita levian-dade. E basta ler a cronologia climática no último século. Desde 1890 que se sabe do efeito de estufa, desde 1924 que se sabe do aquecimento global, desde 1970 que se conhecem quais são os gases e que actividade humana tem provocado esses problemas. Está provado cientificamente que o ar condicionado é produto de gazes que provocam o efeito de estufa mas desde 1974 para cá, massificou-se a utilização do ar condicionado. Há falta de consciência colectiva para as questões ambientais e acho que isso só se faz com formação.
Outra situação que é também extremamente importante para mim, e que eu friso embora não seja nova é a seguinte: nós temos sistematicamente eleito deputados do PSD e do PS para a República que já tiveram maiorias absolutas e maiorias relativas com acordos de incidência parlamentar ou seja, tiveram todas as condições parla-mentares para resolverem o problema e não o fizeram. Falo concretamente dos terrenos e imóveis propriedade do estado que estão na Região e que não estão a ser devidamente utilizados e que podiam estar a potenciar a nossa economia. E com isso tirar de cima do Estado o peso de financiar as regiões autónomas. Falo concretamente dos terrenos do aeroporto de Santa Maria que é uma estrutura esplêndida traçada de forma quadricular ao nível das cidades modernas, com zonas verdes lindíssimas mas totalmente abandonada que tem todas as condições para fazer crescer Vila do Porto do ponto de vista urbano.
Há, ainda falando de Santa Maria, a questão do Polígono de Acústica Submarina que tem condições excelentes para a construção duma unidade hoteleira. Construiram-se naquela ilha nos últimos anos duas unidades hoteleiras e o Polígono continua lá. A estação Loran que fica na costa norte de Santa Maria que daria uma zona turistica de grande quali-dade. Na ilha Terceira existe a célebre questão do hospital da Boa Nova. Há interesse da Câmara da Praia da Vitória em utilizar esse edifício para fins diversos e pelo que sei essa trans-ferência está dependente duma ques-tão jurídica. Trata-se de dar condições aos empresários da região para utilizarem património do Estado que tem potencialidade para se desenvolverem actividades privadas.

Friday, February 11, 2005

Frio Luzidio

No verbete que precedeu este, entre as coisas calhadas, calhou ficar inscrito que o nosso país "sempre recebeu pouco". Isso será tão correcto ou inconsequente como outro presunto, outra presunção, qualquer. No tal anterior pretendia-se dizer que, tantas vezes, quando o país "estava mal" estava bem e que quando "estava bem" não estava ou não o ficava. Neste, que se agita, ter-se-ia o gosto de, dizendo relativamente a mesma coisa, ainda dizer que talvez nem sempre não tenha sido o pouco receber mas o não o todo perceber.
Exemplo do momento: os apertos governamentais recentes que tiveram pela desafogada da terra queimada em pantanal. Aquando de legislatura de governo anterior, o país estava como se estivesse bem ou como se mal não estivesse ficando. Não faz mal.
D. João II, príncipe perfeito; infante D. Pedro; infante D. Henrique…
Manuel Monteiro, homem feito; Paulo Portas; Durão Barroso…
Este artículo, desconsolado, também algo encegueirado, segue na mesma senda; elogio e cerne da questão- escorregadio- a cherne, e chefe Durão Barroso. O de seiva fria.
Ao que fomos votados.
Como foi da visão de da geração primeira inferida, as fronteiras mais prejudiciais por Portugal a vencer (além da brandura, brancura de intenções ou ténue manifestação) seriam as de se ser em periferia. Ter Portugal uma fronteira só e tão chata apenas com os espanhóis e, a mais cativada, outra fronteira com os seres marinhos.
Santo António – que não ficou em Portugal periférico, mas calhou permanecer em Itália – ajuda Portugal em Portugal e Portugal no mundo.
Vaidoso Barroso, cherne brilhante, na Comissão Europeia – ainda que nada, directamente, faça por Portugal, sendo Portugal, se resplandecendo, no fundo, ajudará idem Portugal.

(Salvaguarde-se que foi Sra. esposa, inebriante, que o sujeitou de Dom Barroso “cherne” em meiga citação de poesia – algo que, daí, se arrastaria na Rua do Descrédito pelos escarninhos adversários).

Ó José Manuel – que retiraste o nome de Durão para seres mais pronunciável ao macio e arejado linguarejar anglo-saxónico – europeu serás, e sinfónico, de Portugal e não da Bélgica, da Bota ou da Anglo-Saxónica.
Barroso, que tão duro sendo Durão tiveste a claridade de a nós – portugas misarentos – conceder a graça dos salvíficos sacrifícios de …:
salários congelados – peixes salgados;
reforma Administrativa – pútrida natureza reputativa;
novas leis do Trabalho – todos trabalhados a retalho;
menor investimento público – maior o desemprego, e súbito;
cortes orçamentais – e alongamentos ornamentais;
reforma da Saúde – quem a tem que a cuide;
reforma da Educação – na reforma os educadores a melhor colocação;
venda de património – vendas nos olhos e facada na coligação-matrimónio;
Et, et cetera; Enriquece por nós na nossa era!
Que ainda com o duro, menos Durão, sempre sendo unhas-de-fome, sejais a matéria gelatinosa que o pão duro barre e sejais barreira a tansa tonteira. Sejais, tão fora de casa, profeta e proveitoso, qual Descartes ou Espinosa – Não venhais a declarar a tanga pirosa.
Barroso, que tivestes a lucidez escorregadia de ser bom comensal para George Bush filho, comei dos internacionais menus, e, tudo o de sentimental digerindo, difundindo luzes lusitanas em cada dia e dia!
José Manuel de Jesus, José e Maria – que ultrapassaste a periferia política dos de Mao Tsé Tung – tenhas ainda a incontinência de extrapassar as expectativas dos eleitores teus por inconsequência.
Durão Barroso e agradada família que, no Verão há um ano, férias vieram passar por Vila Franca do Campo (e de cá ir ver golfinhos e baleias);
Não partas, como um raio, de Portugal, sem antes de pinga uns golinhos tomar e, de bico molhado, pronunciar outras belas … balelas!
Frio e luzidio, suor, que, como que ao arrepio, para Bruxelas partistes como pinga-humor, como primeiro-ministro ainda deste o primor.
Viveu-se o euro-Verão 2004.

Moléstia à parte – nas alturas desta escrita – uma parte da política (a que é Oposição) agita-se a dizer de crise a saída do Primeiro-Ministro. Ele, que tão mal amado, na despedida como que é desejado...Como se os partidos mandatados e deputados tão bem assentados não pudessem, natural e (até) constitucionalmente, formar, reformar, Governo. Para a conclusão da legislatura, como de direito.
O Sr. novo Presidente da Comissão Europeia que desculpe lá tais despedidas. Noss. Senhor leitor que perdoe estes artículos conspicuosos. Agradecimentos, também, a Portugal-futebol. Saudações desportivas e não desportivas aos imperfeitos novos deuses do Olimpo (os tais "grécios" como diria Bush filho e alguns dos seus afilhados).
Nossa S. abençoe Portugal.
1-7-2004
Edgardo Costa Madeira

Thursday, February 10, 2005

O ACASO E O TEMPO

Sou feita de tempo. Todos somos feitos de tempo. Múltiplos tempos tecidos de histórias que se entrelaçam num palco por onde passamos todos, companheiros de uma epopeia em que eu não desempenho senão um pequeno papel. O tempo que me faz é a duração de tudo o que guardo na memória. E de modo tão frágil é a recordação do que chamamos passado que podemos chorar por já ter rido, no presente, e rido por já ter chorado noutra hora e repetir vezes sem conta, sem termos a noção de que a verdade nem na nossa mente permanece a mesma.
Mas pensamos que temos a verdade na mão. Pelo menos alguma verdade... Somos, ao fim e ao cabo, as nossas memórias num presente qualquer que já se desvanece, vivemos guiados por um fio que vem de um passado sempre obscurecido de infâncias e da nascente para nos tornamos riacho e depois rio até um mar eterno que nos aguarda inexoravelmente. As margens da nossa história são marcos bem mais importantes que a nossa passagem.
Quem é senhor de mudar o curso da grande História? Bastaria um mensageiro perdido, uma arma bem arremessada e toda a História seria diferente. Se Júlio César não atravessasse o Rubicão? Ou se Afonso Henriques tivesse nascido do sexo feminino? Ou Napoleão ou Hitler tivessem tido difteria ou outra doença fatal na infância?
Tolstoi, na sua obra Guerra e Paz, refere como numa grande batalha que decide um império depende de uma ordem que pode nem chegar e bastaria um simples soldado para que tudo se pudesse alterar e ser diferente. Por isso a ideia dos grandes homens que fazem a História não podia ser válida.

Há alguém que chegou num tempo escolhido e representa uma etapa do espírito.
Acaso, destino, fio lógico, nada é seguro.
A História sempre me intrigou por ser uma memória que se constrói feita
de recordações alheias interpretadas em cada época de um modo diferente. A interpretação da própria época já é complexa e parcial. Como pode ser justa a memória reescrita tanta vez?
Sou eu que faço o meu tempo porque não é verdade o passado que me escrevo e recordo. Há sempre muito afecto que altera a razão. Outro e mais outro existe de que não me recordo e faz a minha duração no mundo. A duração dos outros, do que eles recordam de si é também um pouco da minha história. O romancista Pedro Paixão, em Quase gosto da vida que tenho, afirma: "Tenho de continuar a aturar o adolescente em mim. (...) Fui acumulando quem sou.(...) Fui-me conservando a mim próprio pelo respeito de nunca saber quem era, o que seria, de ignorar o que se estava a passar, o que por mim passava, aquilo a que tão inconscientemente chamamos vida".
Quantos acontecimentos se deram para que chegássemos a esta viragem na História. Hegel tinha razão quando escrevia que a existência do passado estava toda inteira contida no presente. O passado existe precisamente porque a sua forma de ser é o devir necessário da própria realidade. Que responsabilidade cada passo que damos só por aqui estarmos e esse privilégio é único e especial para cada duração. É muito difícil explicar o que é o tempo. Santo Agostinho dizia que sabia muito bem o que era quando não lho perguntavam mas que deixava de saber quando queria explicar. Talvez que quando se fala de duração o termo mais concreto nos dê a consistência do nosso existir. Sempre frágil e fugidia a duração do que somos aumenta cada momento e falamos então de um passado.
Porém a nossa riqueza fundamental é o que decidimos fazer com a nossa
duração como se a palavra presente, tal como é em português, tivesse múltiplos sentidos e um eles fosse uma oferta constante de oportunidade num projecto global em que nos movemos.
"A verdade é filha do tempo e a verdade é filha da razão". Mas nós somos filhos do tempo também, mais do nosso tempo do que dos nosso pais. Todavia a evolução da razão altera as estruturas preceptivas dos acontecimentos. Tentar entender o fio da História, através da acionalidade dos Sumérios, Egípcios, Gregos ou Romanos, é tentar o impossível porque se moviam noutra verdade e noutras referências. Os seus mitos não são os nossos e a nossa magia é diferente. A consciência histórica reporta-se a uma actualidade que, de acordo com o filósofo já falecido, Manuel Antunes, em "Indicadores de Civilização": "a medida da actualidade é a vida", na sobrevivência das grandes criações do espírito humano.
Viver o nosso tempo é descobrir como somos um milagre gratuito. Com a responsabilidade imensa que nos cabe. Seja da longa evolução com toda a sua cadeia de acontecimentos de milhões de anos, seja do acaso, ou seja da Providência, o sentido maior da História é sempre seus últimos tempos.
Isso será a actualidade ancorada nas nossas frágeis existências. Toda essa humanidade da qual muitas vezes apenas chamamos outros. Esses outros que agora somos nós.
Lúcia Costa Melo

Wednesday, February 09, 2005

Notas do meu varandim - Doze ou apenas 1?

2005 aí está.
Como porém escrevo ainda em 2004 não quero deixar de tecer algumas considerações acerca de uma tradição.
É costume em muitos lados, e por estes também, fazer coincidir as 12 badaladas da meia-noite que separa os dois anos com a mastigação de 12 passas regadas com um bom vinho, enquanto se formulam 12 desejos.
Não sei se este número, um dos preferidos da cabalística, terá alguma coisa a ver com os 12 meses do ano, ou talvez mais poeticamente com os 12 trabalhos de Hércules, ou com outro doze qualquer que se me escapa, completamente.
Mas não quero entrar nessas filosofias.
Ensinaram-me, em tempos antigos que não devíamos ser demasiado ambiciosos e sempre que houvéssemos de pedir o fizéssemos calma e moderadamente. Este agora, logo outro e ainda um outro, mais tarde.
Não sei se esta teoria está certa, mas este ano, no fim de mais um ano só me apetece fazer um pedido.
Claro que sendo apenas um terá que ser suficientemente abrangente de modo a que quem o queira satisfazer, não tenha apenas os doze trabalhos de Hércules, mas mais, muito mais.

Queria simplesmente que a fome acabasse.

Agostinho da Silva, infelizmente muito esquecido entre nós, numa das suas muitas intervenções televisivas, recorda que a vida humana é regida por três ss: Sustento, Saber, Saúde.
E passando um pouco mais além o ilustre professor dizia que realmente o sustento é o principal. Sem ele nada existe, nada vale a pena.
Não resisto a contar uma pequena história, ouvida há muito e que diz o seguinte.
Numa gare de caminhos-de-ferro, estava um indivíduo que continuamente levava a mão à testa, a descia até ao estômago e seguidamente ao ombro direito e esquerdo.
Um passageiro, julgando-o muito religioso, pois parecia benzer-se continuamente, quando ele lhe pareceu mais ao alcance da voz, sem levantar suspeitas dirige-se-lhe e pergunta:
-Bom homem, deve ser muito religioso, pois se benze muito amiúde.
-Engana-se meu amigo. Eu penso, e apontou a testa, com esta, como hei-de alimentar este, e apontou o estômago, sem levantar esta nem esta. E exibiu ambas as mãos.
Naturalmente trata-se de uma historieta, como milhares de outras, mas bem elucidativa de como os populares sabem construir com sabedoria e graça as suas bases de vida.

Mas se sabemos construir filosofias de vida, com engenho e graça, muito dificilmente sabemos concretizar estas mesmas ideias na prática. E assim quando parece que o mundo avança, verificamos com espanto e indignação que afinal os avanços são poucos, e infelizmente para poucos.
Se aumenta pouco o número de ricos, os dos pobres não pára de crescer. Milhões de crianças morrem todos os dias à fome. É triste, que num mundo com comida suficiente para todos, uns estraguem e outros morram por não ter.

Por isso os meus 12 desejos se vão resumir apenas a um: que a fome acabe. Se esta acabar, a felicidade será muito mais fácil de alcançar. Mas já seriam dois pedidos, ou apenas um? E eu só queria fazer um pedido.
Porque não poderá ser satisfeito?

TEIXEIRA DIAS

Pequeno contributo

Acredito que os blogs já se tornaram indissociáveis dos orgãos de comunicação social tradicionais e que uns complementam os outros e que todos juntos podem contribuir para uma sociedade melhor. Este blog pretende também dar um, ainda que pequeno contributo.
MR