Monday, February 21, 2005

1969 - A grande materialização da autonomia da ciência


Aristóteles, filósofo grego do Séc. IV aC, defendera que o planeta Terra era o centro do Universo, enquadrando uma ciência qualitativa quanto à constituição e funcionamento dos corpos celestes. Esta teoria viria a ser intensamente assimilada pelo homem, num misto de razão e de Fé.
Qualquer conquista da Ciência, para além dos parâmetros metodológicos, que não se enquadrasse coerentemente no saber tradicional, seria considerada falsa, não deturpando o pensamento da sociedade de então, quanto aos conceitos sobre a Terra e o Universo.
No Séc. XVI dC, o astrónomo polaco Copérnico demonstrou que o centro do Universo era a estrela Sol e não a Terra, que os planetas possuíam um duplo movimento, o de rotação e o de translação. Esta descoberta científica não viria a ter repercussão, pela filosofia aristotélica, que impunha o seu critério e limites ao autêntico saber científico.
Um século mais tarde, o cientista italiano Galileu (n.1564/m.1642) proclamava que o centro do mundo planetário era o Sol. Uma heresia nos tempos coevos, valendo-lhe a antipatia dos intelectuais.
Intimidado a renunciar à sua doutrina, fundamentou em livro (1632) o Sistema Solar. Não obstante, e já septuagenário, Galileu iria a tribunal. Ao negar a sua tese, temendo pela sua própria vida, balbuciou: "Eppur si Muove"! (e, no entanto, a Terra move-se!).
Para Galileu, "Deus dotou o homem com as faculdades necessárias para compreender que Ele é tanto o autor da Bíblia, como o autor da Natureza".
Este evento científico, eleva-se a marco histórico da criação da Ciência Moderna.
Ao longo dos séculos, algo deu substância à Astronáutica propriamente dita: no ano 160, segundo século da nossa Era, Samasota no seu livro "História Verdadeira", descreve pela primeira vez uma viagem à Lua; no século XVII, a mesma ficção em obras de Kepler, Godwin e Bergerac, a que se acresce Newton, com a enumeração da base do sistema actual da propulsão cósmica. (v.Mapa)
Entretanto, ...quem já não leu o romance "Da Terra à Lua", escrito em 1865?!... Cem anos separam o sonho da “bala do super canhão” idealizado por Júlio Verne, ao potente foguetão Saturno-5, com o módulo de Comando Lunar nele acoplado. (v.Fig.)
A 21 de Julho de 1969, a ficção passou a realidade: O homem pisava pela primeira vez a superfície da Lua.
Concretizava-se assim, o desafio técnico lançado oito anos antes, pelo Presidente John Kennedy: "a América enviará um homem à Lua, antes de 1970!".
Do Cabo Kennedy, três astronautas a bordo do módulo de comando Apolo, iniciaram a viagem com destino ao satélite da Terra, a uma velocidade vertiginosa, lançado para o espaço pelo "musculado e inteligente" Foguetão.
Dois dos astronautas, em fatos especiais e num outro módulo mais pequeno, pousaram suavemente na Lua. Enquanto Collins se manteve no módulo Apolo, girando em torno da Lua, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, caminharam na superfície lunar em recolhas e trabalhos científicos.
A viagem de regresso à Terra levaria três dias, com 385 quilos de rocha lunar, para gáudio dos estudiosos.
No triénio 1969/72, os astronautas americanos visitaram seis pontos diferentes da Lua. Deixaram lá alguns instrumentos, um para detectar sismos lunares, outro para medir a distância da Lua à Terra. Depois, mais ninguém lá voltou, neste projecto altamente dispendioso.
Um feito ímpar na História da Humanidade, há precisamente 35 anos. Em contexto, diríamos que foi a grande materialização da Revolução Científica criada por Galileo Galilei.
A nível cultural e das mentalidades, a odisseia à Lua não terá sido credível a muita gente, ora por não possuírem um conhecimento mais lacto, ora por ser um feito humano demasiadamente arrojado e impossível.
Os jornais e as revistas que chegavam até nós, eram pouco divulgadas. Embora, a rádio de válvulas e um reduzidíssimo número de rádios transístores, actualmente peças de museu, se generalizasse em todas as famílias, as notícias nacionais eram transmitidas satisfatoriamente por uma ou até duas emissores: a Emissor Regional dos Açores (RDP) e o Clube Asas do Atlântico, nas quais os problemas e as preocupações do Estado, face às diversas frentes da Guerra Colonial, eram frequentes na informação áudio.
Todavia, o Continente beneficiava de televisão (RTP), com imagem a preto e branco. Daí, a "Flama", revista semanal de actualidades, no nº 1120, dedicar em título de capa um "exclusivo sensacional: 16 páginas a cores com fotografias feitas na Lua".
Diríamos que não só houve incredibilidade, perante a ida do Homem à Lua, mas também alguma espécie de ironia. Recorde-se um aluno que, num teste de Português (Esc. Ind. e Comercial P.D.), argumentara: "a Lua não será a mesma para os poetas, por já lá haver ferro-velho deixado pelos terrestres".
Ao relermos o nº 657 do Semanário a "VILA", ressalta-nos o artigo "Os que não foram à Lua", pelo que se cita algumas passagens, numa síntese do seu conteúdo:
"Da parte dos poetas, havia certa má vontade e rancor contra os perturbadores da tranquilidade do satélite", "... os que sofrem da mania da contradição, negam a pés juntos que algum ser humano tenha ido ate à lua", etc..
Volvidos 35 anos, assiste-se ao percurso de concretização de estações espaciais internacionais, tais como a Mir (Paz) e a Freedom (Liberdade), a 450 Kms da Terra, para nas próximas décadas servirem de bases ou colónias do ser humano, a um Astronáutica ainda mais vasta.
25.OUT/2004 AUGUSTO M.C. CORREIA

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